
O SEO na era da IA e a ascensão do GEO — a nova fronteira da visibilidade digital
Se o SEO acabou, porque é que ainda estás a ler isto?
Será que estamos a assistir ao fim do SEO tal como o conhecemos?
Durante décadas, o SEO foi o pilar que sustentou a descoberta de conteúdos online. Mas com a introdução da Inteligência Artificial generativa nas plataformas de pesquisa – como o Google SGE, o Bing Copilot ou o ChatGPT com browsing – essa dinâmica está a mudar de forma abrupta. Os utilizadores já não precisam de clicar em dez links diferentes para encontrar respostas. Agora, a resposta surge, sintetizada e contextualizada, diretamente no topo da página ou numa janela conversacional.
Esta mudança levanta uma questão fundamental para profissionais de marketing digital e especialistas em SEO: estamos a assistir ao declínio irreversível do SEO, ou à sua transformação mais profunda até à data? Será que o futuro pertence à IA – ou ainda há lugar para a estratégia, otimização e autoridade humana?
Neste artigo, analisamos as origens, os sinais atuais e as tendências para compreender o que realmente está em jogo.
O SEO de ontem e de hoje: uma constante reinvenção
A evolução do SEO é tudo menos linear — é feita de reinvenções. Desde os tempos em que a simples repetição de palavras-chave (keyword stuffing) bastava para subir nos rankings, até à atual era da IA e da otimização semântica, o SEO tem sido moldado por mudanças tecnológicas, comportamentais e algorítmicas.
Décadas de transformação:
- Anos 90 – O Velho Oeste digital: bastava repetir palavras-chave e encher páginas de links para enganar algoritmos rudimentares. Era uma corrida à manipulação.
- Anos 2000 – A relevância: com o crescimento da web, o Google começa a premiar conteúdos mais úteis, páginas bem estruturadas e experiências de navegação mais intuitivas.
- 2010 em diante – A era da inteligência contextual: o lançamento de algoritmos como Hummingbird, RankBrain e BERT trouxe uma nova exigência: compreender o significado por detrás da pesquisa e oferecer respostas contextualizadas.
Evolução algorítmica — marcos essenciais:
- Panda (2011): penaliza conteúdo duplicado e de baixa qualidade.
- Penguin (2012): combate links artificiais e estratégias de black hat.
- Hummingbird (2013): foca-se na intenção da pesquisa e na linguagem natural.
- RankBrain (2015): aplica machine learning para entender melhor o contexto da pesquisa.
- BERT (2019): interpreta nuances linguísticas e o relacionamento entre palavras.
- Helpful Content (2022): valoriza conteúdos escritos para pessoas, não apenas para motores.
E as tendências atuais?
- SEO técnico: estrutura, velocidade e acessibilidade são obrigatórios.
- SEO mobile-first: a experiência em dispositivos móveis é prioridade.
- SEO semântico: compreender e responder à intenção de pesquisa é central.
- Conteúdo de qualidade: só o conteúdo realmente útil, original e aprofundado sobrevive.
- IA e automação: desde análise de dados a conteúdos assistidos por IA, a tecnologia tornou-se parte integrante da prática.
O SEO já não é apenas uma técnica de otimização. É uma lófica estratégica que exige domínio de conteúdo, tecnologia e comportamento do utilizador. E tudo isto... antes mesmo da IA generativa ter entrado em cena.
Leia também: Criação de websites responsivos: A chave para o sucesso no mobile
A disrupção da IA: o que está realmente a mudar?
A verdadeira disrupção da IA não é apenas tecnológica – é comportamental. A forma como as pessoas interagem com a informação está a ser reescrita em tempo real.
Desde o final de 2022, com a explosão do ChatGPT, vimos um crescimento exponencial de ferramentas que integram IA generativa nos fluxos de pesquisa. O Google lançou o SGE (Search Generative Experience), onde os utilizadores recebem respostas completas diretamente na SERP. O Bing integrou o Copilot no seu motor, tornando as conversas com IA parte da pesquisa nativa. Ferramentas como Perplexity, You.com ou até o ChatGPT com navegação em tempo real oferecem respostas baseadas em múltiplas fontes sem exigir cliques adicionais – são motores de resposta, e não apenas de pesquisa. Isto muda tudo:
- O tráfego orgânico para websites está a diminuir, especialmente para conteúdos informativos e comparativos.
- A visibilidade deixa de depender apenas de rankings – passa a depender da presença nos datasets que alimentam os modelos de linguagem.
- Os utilizadores não querem apenas links: querem respostas contextuais, sintetizadas e confiáveis, entregues instantaneamente e sem esforço.
De acordo com um estudo de 2024 conduzido pela SparkToro em parceria com a Datos, cerca de 59,7% das pesquisas no Google na União Europeia resultam em zero cliques – ou seja, os utilizadores obtêm as informações diretamente na página de resultados sem visitar outros sites. Este fenómeno é impulsionado por funcionalidades como snippets em destaque, painéis de conhecimento e, mais recentemente, os resumos gerados por IA, que fornecem respostas imediatas às consultas dos utilizadores. Além disso, os dados de comportamento indicam que os utilizadores começam a confiar mais nas respostas geradas por IA do que nos resultados tradicionais, especialmente para perguntas complexas ou exploratórias.
A disrupção também acontece na produção de conteúdos: ferramentas de IA como Jasper, Claude ou o próprio ChatGPT estão a transformar a criação de conteúdo. Todos já usamos IA para gerar títulos, sumarizar textos, identificar oportunidades de palavras-chave, criar outline de artigos ou criar FAQs otimizadas – mas também enfrentamos o desafio de manter a autenticidade e evitar a duplicação massiva.
O impacto é sistémico:
- Os modelos de IA consomem conteúdo da web para aprender – o que torna a qualidade e a estrutura desse conteúdo ainda mais importante.
- As marcas que dominarem a lógica de como a IA seleciona, sintetiza e apresenta informação terão vantagem competitiva.
- E quem continuar a pensar em SEO apenas como um jogo de posições num ranking poderá desaparecer das novas experiências de pesquisa.
O que estamos a viver não é uma fase. É uma transição de paradigma. Neste novo contexto, a pergunta já não é apenas “como ranquear”, mas sim “como ser referenciado pelas IAs”. E é aqui que começa o novo papel do SEO, como ponte entre conteúdo humano e interpretação algorítmica. A pesquisa está a tornar-se conversacional, contextual e imediata e isso exige uma nova mentalidade de otimização e descoberta.
O novo papel do SEO: de “rankear” para orientar a IA
Para compreender o rumo que o SEO está a tomar, é necessário saber o que está a impulsionar a mudança. O SEO baseia-se na otimização do conteúdo para os motores de pesquisa, no aumento da visibilidade e na obtenção de tráfego orgânico. Isto significa tudo, desde a pesquisa de palavras-chave e a criação de ligações até à melhoria do desempenho do site e da capacidade de resposta móvel. Num mundo em que 68% das experiências online começam com um motor de pesquisa (BrightEdge), uma estratégia de SEO forte não é opcional. É essencial.
Com a IA a assumir o papel de sintetizadora de conteúdos, o SEO já não vive apenas de rankings. A nova missão é ensinar os motores de IA a reconhecerem, valorizarem e utilizarem o conteúdo de qualidade produzido pelas marcas e isso requer uma abordagem estratégica e técnica integrada.
Isso passa por:
- Produzir conteúdos originais, com autoridade e estrutura lógica clara.
- Utilizar dados estruturados e marcações semânticas para facilitar a leitura por IA.
- Criar contextos em que a marca é referenciada como fonte de confiança (ex: Wikipedia, Reddit, fóruns técnicos, etc.)
- Reforçar a presença em conteúdos que ajudem os LLMs a estabelecer relações de confiança (citations, snippets, entidades interligadas).
Afinal, os modelos de linguagem aprendem com o conteúdo disponível. O SEO deixa de ser apenas uma luta por lugares – passa a ser uma estratégia para garantir que a IA “conhece” e “reconhece” a nossa marca.
Leia também: SEO: a importância de partilhar conteúdo de qualidade
SEO vs GEO: Quem domina o futuro da descoberta?
Chamemos-lhe GEO — Generative Engine Optimization. Este é o novo território onde as marcas disputam atenção. Não é uma simples extensão do SEO tradicional. GEO exige um novo mindset e novas competências:
- Curadoria estratégica de conteúdos: o que está publicado precisa de ser útil, interligado e com foco no utilizador.
- Presença multicanal em fontes de confiança: não basta aparecer no Google. É preciso ser fonte para a IA.
- Humanização com precisão técnica: conteúdo útil, bem escrito, mas também tecnicamente estruturado para leitura por máquinas.
- Integração entre SEO, conteúdo e PR digital: quem dominar esta tríade vai liderar as respostas de amanhã.
O desafio é este: ou as marcas aprendem a falar com os humanos e com as IAs, ou simplesmente deixam de ser ouvidas.
E quais as estratégias para não ficar invisível?
Nesta era de IA generativa, a visibilidade deixou de ser um jogo de posições para se tornar um jogo de relevância algorítmica. Não basta produzir conteúdo. É preciso tornar o conteúdo compreensível e valioso para humanos e máquinas.
Eis um conjunto de estratégias práticas e orientadas para resultados:
- Crie clusters de conteúdo temáticos: link páginas entre si de forma lógica, com hierarquia e profundidade, para construir autoridade semântica e facilitar a compreensão por parte dos modelos de IA.
- Otimize para formatos conversacionais: inclua secções de perguntas e respostas (FAQ), guias passo a passo e introduções claras que ajudem os motores generativos a identificar rapidamente a utilidade do seu conteúdo.
- Aposte em conteúdos especializados com insights únicos: a IA valoriza originalidade e profundidade. Conteúdos curtos, com pouca relevância serão ignorados – seja específico, relevante e credível.
- Garanta presença em fontes que treinam a IA: esteja ativo em plataformas como Wikipedia, fóruns técnicos, publicações académicas e portais de referência. Estas fontes são frequentemente utilizadas para alimentar IA.
- Implemente dados estruturados e Schema Markup: ajude os motores a interpretar com precisão a natureza do seu conteúdo – produtos, eventos, artigos, FAQs, entre outros.
- Alinhe a linguagem do conteúdo com a intenção de pesquisa: pense como o utilizador formula a pergunta e escreva de forma direta, útil e contextualizada.
Num cenário em que os resultados de pesquisa são gerados em tempo real e sem cliques, só sobrevive quem for capaz de influenciar a resposta – mesmo que o link não seja mostrado.
A nova visibilidade é invisível à primeira vista — mas profundamente estratégica. Perceberam?
Leia mais: Google AI Max: Tudo o que precisa de saber sobre a nova funcionalidade de IA da Google
O SEO não morre. Transforma-se.
A tentação de declarar o fim do SEO é compreensível. Vivemos uma mudança radical, onde o tráfego orgânico tradicional já não representa, por si só, o principal indicador de sucesso.
Mas o SEO nunca foi apenas sobre cliques. Sempre foi sobre ser encontrado, ser relevnte e ser credível. O que muda agora é o palco. O SEO transforma-se num trabalho mais profundo, estratégico e híbrido. É preciso compreender os modelos de IA, as dinâmicas de confiança, os ecossistemas de dados e continuar a criar valor com conteúdo humano, autêntico e útil.
A inteligência artificial está claramente a remodelar o SEO tradicional, e não há como voltar atrás. Para se manter relevante, é essencial dominar estas novas ferramentas: automatizar processos, antecipar tendências, interpretar grandes volumes de dados e alinhar conteúdo com o comportamento real do utilizador.
Recusar ou hesitar na adoção da IA é, na prática, permitir que outros avancem mais rapidamente. O verdadeiro desafio para os profissionais de marketing é encontrar o equilíbrio entre tecnologia e pensamento humano. Não é exagero: o mercado está a mudar em tempo real. E neste novo ciclo, há uma regra simples: Adaptar-se ou desaparecer.
O SEO não morrerá, mas pode tornar-se irrelevante.
Na Latigid, acompanhamos esta evolução desde o início. Acreditamos que as marcas que combinarem inteligência artificial com inteligência estratégica vão liderar a nova era da descoberta.
O SEO não termina. Apenas se torna invisível para quem deixou de o acompanhar.